Nem tudo são flores no aquarismo. Mesmo os mais
experientes aquaristas, algumas vezes, já foram derrubados por aquele
detalhezinho, esquecido na última hora de tão insignificante que era...
mas que pôs tudo a perder! Foi com base nas minhas próprias desventuras,
em vinte e tantos anos de aquários, e pensando nos que estão iniciando
agora, que resolvi listar algumas cascas de banana, facilmente evitáveis, quando
você se lembra delas!
1 - O AQUÁRIO
Muita gente morre de medo de aquários. Não porque
dêem azar, como dizem alguns, mas pela possibilidade de desastres e inundações,
temores tais quase que totalmente infundados. Se construídos dentro das
especificações técnicas por alguém que saiba construí-los, e instalados
sobre uma base segura, não há muito o que temer. Alguns acidentes porém,
podem E DEVEM ser evitados, tais como:
Mesas ou suportes irregulares. Quase todos
os casos de fundo partido que conheço foram resultado de mesas empenadas,
prateleiras frágeis, isopor muito fino no fundo, etc... A base deve ser firme, e de preferência
construída para este fim. É uma boa idéia colocarmos uma placa de isopor
de mais ou menos 1 cm entre o aquário e a base (mais grossa para aquários
grandes).
Sol no silicone. Quem não gosta de ver seu
aquário sendo banhado pelos raios de sol da manhã ? Estimulando o
crescimento das plantas, valorizando o colorido dos peixes... e ressecando
irremediavelmente o silicone das juntas laterais do aquário devido a ação
dos raios ultravioleta. Isto foi exatamente o que ocorreu com um aquário de
150 litros, instalado no meu quarto, depois de alguns
"ensolarados" anos. Todo seu volume de água foi , repentinamente,
transferido para o chão do quarto, da sala, e, terminando por descer as
escadas do edifício andares abaixo, acumulou-se numa pitoresca poça no
hall de entrada do prédio, para alegria e compreensão dos condôminos e de
meus pais. Um
exame posterior do silicone mostrou, além do descrito acima, o início de
crescimento de algas entre o vidro e o silicone! Uma solução seria
protegermos as arestas do aquário com alguma fita opaca (fita isolante
serve),bloqueando
assim, a ação funesta destes raios.
Travas de segurança que se soltam. Pode
ocorrer devido a inexperiência do construtor do aquário. Principalmente em
grandes tanques, devem ser construídas com muita atenção e cuidado, não
sendo uma simples tira de vidro como podem parecer. Ao se soltarem,
dependendo do formato do tanque, poderá formar-se uma "barriga"
nos vidros dianteiros e traseiros, fato que, quando ignorado, poderá
reverter-se em catástrofe. O melhor remédio nestes casos, é diminuirmos
ao mínimo a quantidade de água, e imediatamente recolocarmos as travas. No
meu caso, nem houve tempo para tal medida, gerando imediatamente uma pequena
rachadura que verteu alguns poucos litros de água... precisamente
sobre um sistema de som, importado e novo, que se encontrava logo abaixo,
trazendo-me como todos podem imaginar, uma grande satisfação. Por
isso...Atenção às travas.
Avalanches e desabamentos. Ocorrem quando
GRANDES peixes derrubam GRANDES pedras. Pode parecer estranho, ou até mesmo
ridículo, mas não é. Peixes de grande porte tais como ciclídeos (Óscar
Tigre, por exemplo), ou mesmo pequenos caranguejos escavadores, podem
facilmente causar tais acontecimentos, dependendo da posição e tamanho de
tais pedras. E estas, ao caírem, podem, além de quebrar vidros, esmagar
qualquer ser vivo desavisado que esteja por perto. Uma exuberante
Echinodorus de mais de dois anos em aquário, foi a vítima quando, um
Óscar, inconformado com a decoração de seu habitat, provocou uma
avalanche de pedras exatamente em cima da infeliz. Não sobrou muito da
planta para maiores exames posteriores. Uma última dica: se quiser colocar
muitas pedras em seu aquário, solde umas às outras, usando cola de silicone
enquanto estão secas e antes de introduzi-las no aquário. Eu não
arriscaria. E você?
2 - O MÓVEL
Já falamos sobre eles no item anterior quanto à
firmeza, solidez, etc. Agora traremos alguns itens sombrios e
insignificantes, mas que podem nos trazer algumas decepções, quando dentro
deles está instalado o nosso sistema de filtração, principalmente os
filtros Dry-wet. Nunca pensou sobre isso? Então confira.
Interior de madeira. Os filtros Dry-wets,
por serem abertos, provocam, além de alta umidade dentro do compartimento
do móvel, respingos por toda parte. Alguns tipos de madeira utilizadas na
confecção de tais móveis, são tratadas com produtos químicos que no
ambiente ultra-húmido formado pela constante evaporação provocada pelo
gotejamento do filtro, criam uma "atmosfera" neste compartimento,
que é, na melhor das hipóteses, bastante insalubre, como se pode comprovar
pelo forte cheiro que se sente ao abrir-se as portas. Além disso, não raro
é o concomitante aparecimento de mofo completando então, um belo quadro.
Se os peixes não se incomodam com este cenário, o aquarista por certo se
incomodará. Ideal seria revestirmos este compartimento com fórmica ou
assemelhado , mas melhor ainda o seria se os móveis existentes no mercado já
viessem com tais revestimentos. Está dada a sugestão aos fabricantes.
Fechos de metal. Se há algo que se pode
chamar de armadilha, esta certamente é uma. Aqueles pequeninos fechos que são
instalados na parte interna e superior das portas para que se mantenham
fechadas, freqüentemente são de metal. Com o passar do tempo, sob ação
dos respingos mencionados no item anterior, a corrosão inexoravelmente
chegará, cobrindo-os de ferrugem. Como se fecham por pressão, o atrito
entre estas superfícies cobertas de ferrugem, a cada vez que você abre ou
fecha estas portas, provoca uma chuva de partículas ferruginosas, que
fatalmente cairão no seu filtro, sem que você jamais suspeite. Se o seu
caso é este, experimente colocar uma folha de papel sob o fecho, e então,
abra e feche a porta. Você ficará impressionado com a quantidade de
ferrugem desprendida a cada abertura. Quem sabe isto não explica aqueles
peixes falecidos misteriosamente, não é mesmo ? Solução só há
uma. Mudar os fechos para outros de material inoxidável ou plástico...Os
fabricantes de móveis ainda estão ouvindo?
3 - TAMPA DO AQUÁRIO
De maneira geral, aquários têm de ser tampados. Ou
melhor, lacrados. Nada no mundo pode garantir que o peixe que neste momento
está placidamente nadando, não vá, em uma fração de segundo saltar como
um louco para fora do aquário, seja ele alto, baixo, grande ou pequeno. Não
acredite nesta estória de que "se o peixe estiver adaptado, não
salta...", ou " se o aquário for bem plantado..." ou ainda
" o peixe X não salta...".
Todos os aquaristas que conheço já perderam peixes
desta forma, e por isso volto a insistir: Faça do seu aquário uma
penitenciária. Qualquer fresta, mesmo a mais inocente, poderá ser a brecha
que seu peixe revoltado ou suicida procura para evadir-se. Por uma destas
frestas absurdamente pequenas, um lindo Tricogaster Leeri se esgueirou
à noite, indo parar, completamente seco sob a mesa da sala de jantar. Por
este descuido, perdi um animal completamente adaptado, e quase perco a
faxineira, que por muito pouco, pelo susto, não pediu as contas. Agora , se
você dispensa o uso de tampas de vidro por opção própria, como para cultivo de plantas... É melhor recorrer a algum auxílio
sobrenatural. Mas não é só. Temos ainda de observar:
Tampas de vidro sustentando luminárias. As
luminárias têm, obrigatoriamente de estar apoiadas no tampo e este nos vidros laterais do
aquário, e não na tampa de vidro. Além do peso excessivo, o calor gerado,
ou mesmo o contato direto com alguma lâmpada poderá quebrar a tampa de
vidro, terminando por submergir toda a instalação elétrica. Posso assegurá-los,
por infeliz experiência própria, de que o resultado disto é realmente
chocante.
Tampas de "cacos". Quando se
possui muitos tanques, principalmente em estações de criação, há uma
tendência em se reaproveitar tudo, e principalmente, vidros. Aquele vidro
que quebrou, junto com este outro, e mais outro, daria uma ótima tampa! E
ela funciona até o dia em que, esquecendo-nos de tal obra, resolvemos puxá-la.
Obviamente presentearemos nossos peixes com uma mortal chuva de cacos de
vidro, isto quando não nos ferimos seriamente. Neste caso, como já diziam
os antigos, " A economia é a mãe da porcaria. "
Tampas de vidro imundas e/ou servindo de
prateleira. Algumas pessoas simplesmente não sabem que as tampas de
vidro de seus aquários devem ser limpas periodicamente. Outras sabem mas não
o fazem. Qual o resultado? Devido a grossa camada de poeira que vai se
acumulando, chega a um ponto da luz simplesmente quase não atravessá-la,
deixando o aquário com aspecto sombrio, e as plantas em estado lamentável.Há também aqueles que lavam tais tampas
imundas na própria água do aquário, fato este que nem merece ser
comentado. Alguns aquaristas por sua vez, fazem destas tampas prateleiras,
depositando nas mesmas todo tipo de material, desde potinhos de ração a
remédios, passando por kits de testes, e até mesmo, nos piores casos,
peixes mortos, formando um nauseabundo museu, acreditem! Além da indiscutível
falta de bom senso e da dificuldade para o manuseio do aquário, é apenas
uma questão de tempo para este "almoxarifado" mergulhar no aquário
repentinamente sob o olhar atônito do infeliz aquarista. Um pouco mais de
organização nunca fez mal a ninguém.
Bem, chega de catástrofes por
ora. Esta é a
melhor hora para levantarmo-nos preocupados à procura de tais indícios em
nossos aquários. O " Livro dos Horrores Aquarísticos" fica por
aqui, por enquanto, mas se você tem sugestões ou acréscimos ao nosso
livro, para as próximas edições, conte o seu caso por E-mail: [email protected]